As mulheres artistas do Renascimento
- Tamara Ramos
- 3 de abr. de 2015
- 3 min de leitura
O número de mulheres pintoras na Europa entre os séculos 15 e 18 era muito pequeno. A principal razão disso é que os preconceitos sociais da época não permitiam que as mulheres perseguissem livremente suas carreiras artísticas, mesmo sendo talentosas. Além disso, não se dava suficiente atenção às mulheres pintoras naquele período.
Entretanto, desde a década de 1960 ou 70, há uma tendência em resgatar a importância do trabalho dessas mulheres artistas, e algumas delas são hoje mundialmente respeitadas e admiradas no mundo das artes. A tela acima (foto), mostra uma das artistas femininas mais importantes do Renascimento, a italiana Sofonisba Anguissola. Neste autoretrato, Sofonisba aparece trablhando em uma pintura que não deixa nada a dever às obras dos grandes mestres do seu tempo.
Os papéis atribuídos pela sociedade às mulheres na Europa, durante os séculos 15 e 18, não lhes permitiu a independência de seus pais ou maridos.
Isso afetou não apenas as artes, mas muitas outras áreas do conhecimento. Devemos lembrar, por exemplo, que as mulheres somente começaram a praticar a medicina e o Direito na segunda metade do século 19, e que não receberam os mesmos direitos de voto que os homens até o início do século 20. Como não era aceito que as mulheres pudessem trabalhar fora de casa, era muito difícil para elas se formarem como artistas. O treinamento padrão para pintores envolvia mudar para a casa de um pintor profissional aos doze anos de idade, por um período de três a quatro anos. O aprendiz iria trabalhar na oficina do mestre prestando assistência em questões práticas, em troca de instrução profissional e educação básica. Isto não era aceitável para uma menina naquela época. Outro problema relacionava-se à prática real necessária para se tornar um pintor.
A partir do Renascimento, tornou-se primordial aos aspirantes a artistas aprenderem a desenhar o corpo humano. Isso era feito a partir de moldes de estátuas antigas, de impressões e também de modelos vivos, geralmente nus. As mulheres foram proibidas de explorar essa técnica porque não era conveniente que elas vissem um homem nu.
As poucas mulheres que se tornaram pintoras conseguiram prosseguir nessa carreira por duas razões principais: ou eram provenientes de famílias nobres que lhes permitiam uma liberdade excepcional para a época, ou eram filhas de pintores que foram ensinadas em casa. Assim, ao longo dos séculos 15 e 18, pintoras mulheres eram realmente raras, não pela falta de talento, mas de oportunidades.
Sofonisba Anguissola, que vemos neste autoretrato delicado pintado por volta de 1556, pode ser a mais importante pintora feminina da Renascença.
Ela era de Cremona, no norte da Itália, e nasceu em uma família nobre que teve a atitude incomum de transformá-la numa pintora profissional. Quando ela estava com seus vinte e poucos anos, mudou-se para a Espanha para servir à esposa do rei Filipe II, a princesa francesa, Isabel de Valois. Era parte do costume da época que os membros da nobreza servissem a realeza. Mesmo não sendo seu dever principal, sabemos que ela pintou retratos dos membros da família real. Sofonisba também trabalhou em Génova e na Sicília e viveu uma vida muito longa.

Quando ela estava já com noventa anos, Van Dyke, um dos maiores pintores do Renascimento, mais de sessenta anos mais jovem que ela, foi visitá-la em Palermo e desenhou seu retrato. Procure-o na Internet. Esse quadro de Van Dyke é testemunho incontestável da sua fama entre os pintores masculinos. Sofonissba pintou muitos autorretratos, como o que vemos aqui, muito mais do que a maioria dos outros artistas contemporâneos. Sofonissba também pode ter sido incentivada a pintar a si mesma por um precedente clássico que foi mencionado por Plínio, o Velho, em seu livro "A História Natural", a mais conhecida fonte de informação que existia na pintura antiga.
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